Crescer sem autoestima

by - abril 06, 2023


Nós mulheres (e até os homens mas sobretudo mulheres), crescemos com o pensamento incutido que ninguém vai gostar de nós porque somos GRANDES e a sociedade assim o impôs. Nós gordas, fugimos ao "típico padrão" e foi algo que mexeu muito comigo, com a minha autoestima durante grande parte da minha vida. 

Tudo começou por volta dos meus 8/10 anos, estava eu na primária, e comecei a sofrer bullying pelos rapazes. Já com 11 anos tinha o período, mamas salientes, pêlos no corpo (e a minha mãe fazia-me usar saias para ir para a escola, obrigada mãe!) mas aos 12 anos já comecei a fazer a depilação nas pernas numa das vezes que fui de férias ao Porto Santo. Pedi desesperadamente á minha mãe para usar uma gilete porque eu não aguentava mais ver-me de pêlos nas pernas. Aos 16 anos fiz a depilação no rosto, pois também incomodava-me imenso. Era muito gozada por causa dos pêlos, pois na altura era muito cabeluda e muito gozada também pelos meus braços, já na altura do secundário. Tinha até uma alcunha. Se eu fosse a contar as vezes que chorei e que faltei às aulas por causa dos nomes que me chamavam não há dedos na mão suficientes. Até as aulas de educação física eu inventava desculpas aos professores porque eu sentia vergonha de correr, um simples saltar ao trampolim não tinha coragem porque ficava tudo a olhar para mim. Os professores também não tinham paciência em insistir comigo nas aulas de ginástica pois a maioria dizia que tinha muito peso para os exercícios então eu ficava sentada a ver as aulas. Também não é que eu tinha muita vontade para ser sincera mas como é óbvio até as palavras deles deixavam-me em baixo. 

Lembro perfeitamente de uma vez, na escola secundária, estar a caminho de uma aula e uns miúdos me chamarem pela dita alcunha e dizerem para sair do corredor que eu é que era a culpada de esbarrarem em mim. Sem dúvida que dos 10 aos 17 foi a pior fase da minha vida. Sempre vivi insegura comigo mesma e mesmo hoje ainda tenho as minhas inseguranças. 


Mas não era só por parte de rapazes que eu sofria de bullying.. até por alguns familiares. Fui muito mas muito criticada. Embora mesmo com 32 anos ainda sou julgada por não perder peso e por "não cuidar da saúde", diziam eles. A diferença de hoje para quando criança é que agora dou a resposta que merecem ouvir.

Sabem lá quantas vezes eu só pensava em ser como as raparigas das revistas e das novelas que tantas vezes perguntava-me porquê que não era, porquê que sou gorda. Idealizava o perfeito que não existe. Isto é um pensamento tão errado! Quantas e quantas miúdas não crescem a pensar da mesma forma e desencadeiam problemas de saúde ou mesmo a morte? Eu fui uma dessas raparigas. Passei pela fase que queria vomitar tudo o que comia mas não conseguia, pois não consigo vomitar facilmente nem a provocar o vômito… acho que foi o que me salvou da bulimia porém ano passado, tive novamente problemas com a comida. Tudo o que eu comia que não fosse saudável eu chorava imenso por ter comido e entrava em pânico! Foi uma luta olhar para a comida com outros olhos novamente mas venci a luta!

Também escondia-me na roupa. Não gostava de usar tops, blusas curtas e um pouco justas, tinha que ser tudo largo para não se notar tanto a barriga e nem os braços. Tapava o rabo com uma camisola á volta da cintura. 


Mas conforme os meus 17 foram chegando, a tempestade acalmou. Mudei um pouco a minha forma de vestir embora sempre fui vaidosa mesmo querendo esconder-me na roupa e já usava maquilhagem, o que não foi de todo mau! Comecei a namoriscar mas nada sério, pois os rapazes também não me viam para namorar. Um dos rapazes que eu tanto gostei disse a uma amiga em comum que eu sou bonita mas é pena que sou gorda. Ele nem teve coragem de acabar comigo! Se eu perdesse peso já namoraria comigo. "Engraçado" que 10 anos depois voltou a ter interesse e eu continuo gorda. 😅 Escusado será dizer que o mandei dar uma volta. 

 Aos 18 anos a vida apresentou-me a pessoa que veio a ser e é o amor da minha vida, que ama cada parte do meu corpo sem julgamento, sem vergonha. Sinto que foi o ponto de partida para eu começar a ter autoestima e mais segurança.
Hoje só lamento ter crescido com um pensamento tão errado sobre mim e por me ter  odiado tanto.  Não é fácil olhar no espelho e gostar do que se vê. Há dias em que toda a roupa que escolho sinto que não é boa o suficiente para sair de casa e ainda assim vou contrariada! Que a barriga  que vejo ao espelho não gosto como tem dias que me sinto a mais gostosa das gostosas. É todo um processo de aceitação e eu aceito-me, amo-me mesmo com as partes menos boas em mim. 

O meu corpo é a minha casa. Tenho que o tratar com amor. 
O amor que devia ser o mais bonito e leve. Sem tabus. A aceitação pelas nossas qualidades e defeitos, conquistas, fracassos e escolhas, o nosso corpo, experiências da nossa vida em total plenitude.  O nosso autocuidado com o corpo e a mente.


Foi e é difícil mas tenho que me amar em primeiro lugar, cuidar de mim sob todas as outras coisas e pessoas. Ter mais segurança em mim mesma! 

Mas seguramente que hoje em dia sinto-me bonita!  

Este longo post foi um pouco sobre a minha autoestima (e insegurança) ao longo dos meus 32 anos. Espero que ajude um pouco a quem passou e passa pelo mesmo. Sintam-se abraçadas e olhem para vocês com AMOR





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4 comentários

  1. Como não gostar da tua partilha da tua história da tua vida, acho que cada um é como é, mas o que sempre digo nunca devemos ligar ao que os outros dizem se estamos bem com nós. Com este texto vais acabar por ajudar muitas pessoas.
    Beijinhos
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    1. Espero que sim. A intenção é essa! :)
      Obrigada pelo carinho minha linda! Beijinho

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  2. Oh dear some things can be a little difficult, I am glad you are sharing.
    https://www.melodyjacob.com/2023/04/spring-and-summer-basics-every-woman-should-own.html

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  3. Para mim, estas cada vez mais atraente

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